sábado, 16 de setembro de 2017

HISTÓRIA DOS ORIXÁS - "YEMANJÁ"


YEMANJÁ

"Deusa das Águas salgadas e mãe de todos os Orixás"
Sincretismo: Nossa Senhora dos Navegantes
Comida: Peixe, canjica branca cozida feita no dendê, camarão e cebola.
Qualidades: Ogunté, Iassessú, Sabá e outras.
Saudação: Eruia! Odoiá!






Odoiá minha mãe!

Iemanjá, cujo nome deriva de Yèyé m já (“Mãe cujos filhos são peixe” ), é o orixá dos     gbá, uma
nação Iorubá estabelecida outrora na região entre Ifé e Ibadan, onde existe ainda o rio Yem já. As
guerras entre nações Iorubás levaram os  Egbá a emigrar na direção oeste, para Abeokutá, no início do século XIX. Evidentemente, não lhes foi possível levar o rio, mas, em contrapartida, transportaram
consigo os objetos sagrados, suportes do à da divindade, e o rio Ògùn, que atravessa a região,
tornou-se, a partir de então, a nova morada de Iemanjá. Este rio Ògùn não deve, entretanto, ser
confundido com Ògún, o deus do ferro e dos ferreiros,

O principal templo de Iemanjá está localizado em Ibará, um bairro de Abeokutá. Os fiéis desta
divindade vão todos os anos buscar a água sagrada para lavar os axés, não no rio Ògùn, mas numa
fonte de um dos seus afluentes, o rio Lakaxa. Esta água é recolhida em jarras, transportada numa
procissão seguida por pessoas que carregam esculturas de madeira (ère) e um conjunto de tambores.
O cortejo na volta vai saudar as pessoas importantes do bairro, começando por Olúbàrà, o rei de Ibará.
Iemanjá seria a filha de Olóòkun, deus (em Benim) ou deusa (em Ifé) do mar. Numa história de Ifá,
ela aparece “ casada pela primeira vez com Orunmilá, senhor das adivinhações, depois com Olo fin,
rei, com o qual teve dez filhos, cujos nomes enigmáticos parecem corresponder a outros orixás. Dois
deles são facilmente identificados: Ò ùmàrè-ègò-béjirìn-f nná-diwó (“O arco-íris-que-se-deslocacom-a-chuva-e-guarda-o-fogo-nos-seus-punhos” ) e Arìrà-gàgàgà-tí-í-béjirìn-túmò-eji (“O trovão-quese-desloca-com-a-chuva-e-revela-seus-segredos” ). Essas denominações representam,
respectivamente, Oxumaré e Xangô.
Iemanjá, cansada de sua permanência em Ifé, foge mais tarde em direção ao Oeste. Outrora, Olóòkun
lhe havia dado, por medida de precaução, uma garrafa contendo um preparado, pois “ não se sabe
jamais o que pode acontecer amanhã, com a recomendação, pois” não se sabe jamais o que pode
acontecer amanhã “ , com a recomendação de quebrá-la no chão em caso de extremo. E assim,
Iemanjá foi instalar-se no”Entardecer-da-Terra”, o Oeste. Olofin-Odùduà, rei de Ifé, lançou seu
exército à procura da sua mulher. Cercada, Iemanjá, em vez de se deixar prender e ser conduzida de
volta a Ifé, quebrou a garrafa, segundo as instruções recebidas. Um rio criou-se na mesma hora,
levando-a para Òkun, o oceano, lugar de residência de Olóòkun (Olokum).

Iemanjá tem diversos nomes, relativos, como no caso de Oxum, aos diferentes lugares profundos (ibù) do rio. Ela é representada nas imagens com o aspecto de uma matrona, de seios volumosos, símbolo de maternidade fecunda e nutritiva. Esta particularidade de possuir seios mais majestosos – ou somente um deles, segundo outra lenda – foi origem de desentendimentos com seu marido, embora ela já o houvesse honestamente prevenido antes do casamento que não toleraria a mínima alusão desagradável ou irônica a esse respeito. Tudo ia muito bem e o casal feliz. Uma noite, porém, o marido havia se embriagado com vinho de palma e, não mais podendo controlar as suas palavras, fez comentários sobre seu seio volumosos. Tomada de cólera, Iemanjá bateu com o pé no chão e
transformou-se num rio a fim de voltar para Olóòkun, como na lenda precedente.

Iemanjá recebe sacrifícios de carneiros e oferendas de pratos preparados à base de milho.

“Rainha das águas que vem da casa de Olokum” .
Ela usa, no mercado, um vestido de contas.
Ela espera orgulhosamente sentada, diante do rei.
Rainha que vive nas profundezas das águas.
Ela anda a volta da cidade.
Insatisfeita, derruba as pontes.
Ela é proprietária de um fuzil de cobre.
Nossa mãe de seios chorosos “ .




Fonte: Os  Orixás e Agô Orixá. 


terça-feira, 12 de setembro de 2017

HISTÓRIA DOS ORIXÁS - "OBÁ"


OBÁ

Orixá que cortou sua própria orelha para encantar Xangô.
Sincretismo: Nossa Senhora das Candeias ou Santa Catarina.
Comida:  Acarajé.
Saudação:





Obá, Xí!
OBÁ, divindade do rio de mesmo nome, foi a terceira mulher de Xangô. Como as duas primeiras, Oiá e Oxum, ela foi também mulher de Ogum segundo uma lenda de Ifá:
“Obá era um orixá feminino muito enérgico e fisicamente mais forte que muitos orixás masculinos.
Ela desafiara e vencera na luta, sucessivamente, Oxalá, Xangô e Orunmilá. Chegada à vez de Ogum, aconselhado por um babalaô, ele preparou uma oferenda de espigas de milho e quiabo. Amassado tudo num pilão, obtendo uma pasta escorregadia, que espalhou pelo chão, no lugar onde aconteceria a
luta. Chegado o momento, Obá, que fora atraída até o lugar previsto, escorregou sobre a mistura, aproveitando-se Ogum para derrubá-la e possuí-la no ato” .

Mais tarde, quando Obá se tornou a terceira mulher de Xangô, uma grande rivalidade não demorou a
surgir entre ela e Oxum. Esta era jovem e elegante; Obá era mais velha e usava roupas fora de moda,
fato que nem chegava a se dar conta, pois pretendia monopolizar o amor de Xangô. Com este
objetivo, sabendo o quanto Xangô era guloso, procurava sempre surpreender os segredos das receitas
de cozinha utilizadas por Oxum, a fim de preparar as comidas de Xangô. Oxum, irritada, decidiu
pregar-lhe uma peça e, um belo dia, pediu-lhe que viesse assistir, um pouco mais tarde, à preparação
de terminado prato que, segundo lhe disse Oxum maliciosamente, realizava maravilhas junto a
Xangô, o esposo comum. Obá apareceu na hora indicada. Oxum, tendo a cabeça atada por um pano
que lhe escondia as orelhas, cozinhava uma sopa na qual boiavam dois cogumelos. Oxum mostrou-os
à sua rival, dizendo-lhe que havia cortado as próprias orelhas, colocando-as para ferver na panela, a
fim de preparar o prato predileto de Xangô. Este, chegando logo, tomou a sopa com apetite e deleite e
retirou-se, gentil e apressando, em companhia de Oxum, Na semana seguinte, era a vez de Obá cuidar
de Xangô. Ela decidiu pôr em pratica a receita maravilhosa: cortou uma de suas orelhas e cozinhou-a
numa sopa destinada a seu marido. Este não demonstrou nenhum prazer em vê-la com a orelha
decepada e achou repugnante o prato que ela lhe serviu. Oxum apareceu, neste momento, retirou seu
lenço e mostrou que suas que suas orelhas jamais haviam sido cortadas nem devoradas por Xangô.
Começou, então, a caçoar da pobre Obá, que furiosa, precipitou-se sobre sua rival. Segui-se uma luta
corporal entre elas. Xangô, irritado, fez explodir o seu furor. Oxum e Obá, apavoradas, fugiram e se
transformaram nos rios que levam seus nomes. No local de confluência dos dois cursos de água, as
ondas tornam-se muito agitado em consequência da disputa entre as duas divindades.

Conta-se ainda, sobre Obá, uma lenda por vezes atribuída a Oxum, baseada num jogo de palavras: “O
rei de Owu, partindo em expedição guerreira, teve de atravessar o rio Obá com seu exército. O rio
estava em período de enchente e as águas tão tumultuadas que não podiam ser atravessadas. O rei fez,
então uma promessa solene, embora mal formulada. Ele declarou: “Obá, deixe passar meu exército,
eu lhe imploro; faça baixar o nível das suas águas e, se sair vitorioso da guerra, eu lhe oferecerei uma
nkam rere (oba coisa)” . Ora, ele tinha por mulher uma filha do rei de Ibadan que levava o nome de
Nkam. As águas baixaram, o rei atravessou o rio e venceu a guerra. Regressou com um saque
considerável. Chegando próximo ao rio bà, ele o encontrou novamente em período e cheia. O rei
ofereceu-lhe todas as nkam rere: tecidos, búzios, bois e comidas, mas o rio rejeitou todos estes dons.
Era Nkam, a mulher do rei, que ele exigia. Como o rei de Owu era obrigado a passar, teve que lançar
Nkam às águas. Mas ela estava grávida e pariu no fundo do rio. Este rejeitou o recém-nascido,
declarando que somente Nkam lhe tinha sido prometida. As águas baixaram e o rei voltou triste aos
seus domínios, seguido pelo seu exército. O rei de Ibadan tomou conhecimento do ocorrido,
Indignado, declarou não haver dado sua filha em casamento para que ela servisse de oferenda a um
rio. Fez a guerra a seu genro, venceu-o e o expulsou de seu país “ “ .


"O arquétipo de Obá é o das mulheres valorosas e incompreendidas. Suas tendências um pouco viris fazem-nas frequentemente voltar-se para o feminismo ativo. As suas atitudes militantes e agressivas são consequências de experiências infelizes ou amargas por elas vividas. Os seus insucessos devem-se, frequentemente, a um ciúme um tanto mórbido. Entretanto, encontram geralmente compensação para as frustrações sofridas em sucessos matérias, onde a sua avidez de ganho e o cuidado de nada perder dos seus bens tornam-se garantias de sucesso."



Fonte: Os  Orixás, Agô Orixá e A Cultura Religiosa dos Iorubás.