XANGÔ
Deus da justiça e do fogo.
Sincretismo: São João Batista.
Comida: Amalá (Quiabo, dendê e cebola).
Qualidades: Baru, Airá, Agodô, Badé.
Saudação: Kauô! Cabiecinlé!
XANGÔ
Kawo Kabiyesi le!
Xangô era filho de Oranian, valoroso guerreiro, cujo corpo era preto à direita e branco à
esquerda.
Homem valente à direita, homem valente à esquerda.
Homem valente em casa, homem valente na guerra.
Oranian foi o fundador do Reino de Oyó, na terra dos Iorubás. Durante suas guerras, ele passava sempre por Empé, em território Tapá, também chamado Nupê. Elempê, o rei do lugar, fez uma aliança com Oranian e deu-lhe, também, sua filha em casamento.
Desta união nasceu este filho vigoroso e forte, chamado Xangô. Durante sua infância em Tapá, Xangô só pensava em encrenca. Encolerizava-se facilmente,era impaciente, adorava dar ordens e não tolerava reclamação. Xangô só gostava de brincadeira de guerra e de briga. Comandando as crianças da cidade, ele ia roubar os frutos das árvores. Crescido, seu caráter valente o levou a partir em busca de aventuras gloriosas. Xangô tinha um oxé - machado de duas lâminas; tinha, também, um saco de couro, pendurado no seu ombro esquerdo.
Nele encontravam-se os elementos do seu poder ou axé:
aquilo que ele engolia para cuspir fogo e amedrontar, assim, seus adversários,
e a pedra de raio com as quais ele destruía as casas de seus inimigos. O primeiro lugar que Xangô visitou chamava-se Kossô. Aí chegando, a pessoas assustadas disseram:
"Quem é este perigoso personagem?"
"Ele é brutal e petulante demais!"
"Não o queremos entre nós!"
"Ele vai atormentar-nos!"
"Ele vai maltratar-nos!"
"Ele vai espalhar a desordem na cidade!"
"Não o queremos entre nós!"
Mas Xangô os ameaçou com seu oxé, sua respiração virou fogo e ele destruiu algumas casas com suas pedras de raio. Todo mundo de Kossô veio pedir-lhe clemência, gritando:
Kabiyei Sango, Kawo Kabiyei Sango Obá Kossôf
"Vamos todos ver e saudar Xangô, Rei de Kossô!"
Quando Xangô tomou-se rei de Kossô, ele pôs-se à obra. Contrariamente ao que as pessoas desconfiavam e temiam, Xangô fazia as coisas com alma e dignidade, realizava trabalhos úteis à comunidade, mas, esta vida calma não convinha a Xangô. Ele adorava as viagens e as aventuras, assim, partiu novamente e chegou à cidade de Irê, onde morava Ogum.
Ogum o terrível guerreiro,
Ogum o poderoso ferreiro.
Ogum estava casado com Iansã, senhora dos ventos e das tempestades. Ela ajudava Ogum em suas atividades, toda manhã, Iansã o acompanhava à forja e o ajudava, carregando suas ferramentas. Era ela, ainda, que acionava os sopradores para atiçar o fogo, o vento soprava e fazia: fuku, fuku, fuku. E Ogum batia sobre a bigorna: beng, beng, beng ...
Xangô gostava de sentar-se ao lado da forja para ver Ogum trabalhar, vez por outra, ele olhava para Iansã. Iansã, também, espiava furtivamente Xangô. Xangô era vaidoso e cuidava muito da sua aparência, a ponto de trançar seus cabelos como os de uma mulher. Ele fizera furos nos lobos de suas orelhas, onde pendurava argolas.Usava braceletes e colares de contas vermelhas e brancas. Que elegância!
Muito impressionada pela distinção e pelo brilho de Xangô, Iansã fugiu com ele e tomou-se sua primeira mulher. Xangô voltou por pouco tempo a Kossô, seguindo depois, com seus súditos, para o reino de Oyó, o reino fundado, antigamente, por seu pai Oranian. O trono estava ocupado por um meio-irmão de Xangô, mais velho que ele, chamado Dadá-Ajaká um rei pacífico, que amava a beleza e a arte.
Xangô instalou-se em Oyó, num novo bairro que chamou de Kossô e conservou, assim, seu título de Obá Kossô - "Rei de Kossô". Xangô guerreava para seu irmão Dadá e o reino de Oyó expandia-se para os quatro cantos do mundo. Ele se estendeu para o Norte, se estendeu para o Sul, se estendeu para o Leste e para o Oeste. Xangô, então, destronou seu irmão Dadá-Ajaká e fez-se rei em seu lugar.
Kabiyei Sango Alafin Oyó Alayeluwa!
"Viva o Rei Xangô, dono do palácio de Oyó e Senhor do Mundo!"
Xangô construiu um palácio de cem colunas de bronze. Ele tinha um exército de cem mil cavaleiros. Vivia entre suas mulheres e seus filhos. Iansã, sua primeira mulher, era bonita e ciumenta. Oxum, sua segunda mulher, era coquete e dengosa. Obá, sua terceira mulher, era robusta e trabalhadora.
Sete anos mais tarde, foi o fim do seu reino:
Xangô, acompanhado de Iansã, subira à colina Igbeti, cuja vista dominava seu palácio de cem colunas de bronze. Ele queria experimentar uma nova fórmula que inventara para lançar raios.
Baoummm!!!
A fórmula era tão boa que destruiu todo o seu palácio!
Adeus mulheres, crianças, servos, riquezas, cavalos, bois e carneiros. Tudo havia desaparecido fulminado, espalhado e reduzido a cinzas. Xangô, desesperado, seguido apenas de Iansã, voltou para Tapá. Entretanto, chegando a Kossô, seu coração não suportou tanta tristeza. Xangô bateu
violentamente com os pés no chão e afundou-se terra adentro. Iansã, solidária, fez o mesmo em
Irá.
Oxum e Obá transformaram-se em rios e todos tornaram-se orixás.
Xangô, orixá do trovão, Kawo Kabiyei le!
Iansã, orixá da tempestade, Êpa Heyi Oiá!
Oxum, orixá das águas doces, Orê Yeyê ô!
"Orixá da justiça e do fogo, Xangô é o terceiro Alafin-Oió, e viveu em 1450 a.C., destacando-se pela sua valentia e liderança. Foi marido de Oxum, Obá e Iansã. Castiga mentirosos, infratores e ladrões. Por isso a morte pelo raio é considerada infamante, assim como uma casa atingida por uma descarga elétrica é tida como marcada pela ira de Xangô. O xerê é um chocalho feito de porongo alongado, que quando agitado lembra o barulho da chuva, é um dos símbolos de Xangô. Outro símbolo bem conhecido é o oxé, um machado de duas lâminas que deixava Xangô muito poderoso."
Fontes: Agô Orixás e Lendas Africanas dos Orixás.